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Difaculdade – parte 2

Primeira semana de faculdade. Todo mundo sabe que nesse período é que ocorrem os trotes. Antes de tudo, veteranos de Desenho Industrial não aplicam trotes. Sendo assim, sobra muito trabalho para a “galerinha” de publicidade.

E lá se foi minha franja. Sim, só a franja. Desde quando publicitários fazem o serviço completo? Geralmente têm um brainstorm, entregam os rascunhos às 18h da noite para o designer desenvolver e finalizar até o outro dia de manhã. … OK, posso estar exagerando… ou não…

Além de precisar ficar com a cara toda pintada com uma tinta que só sai com thinner, com o cabelo mal-cortado, você é obrigado a ganhar um trocado em um pedágio para os publicitários tomarem algum líquido com teor alcoólico elevado, para assim ter um brainstorm (era o caso daqueles veteranos). Com a minha lábia articulada, consegui ganhar um total de… R$1, 25. Mas isso não foi o que me marcou naquele dia. O semáforo fechou, vou correndo para o carro de uma senhora, que parecia ser gentil e pedi humildemente: – Tia, pode me ajudar com um trocado para o pedágio do trote? – Em que curso você entrou, meu filho? Retrucou a senhora. – Desenho Industrial! Respondi. – Desenho Industrial?????? Desenho Industrial???????? Se fosse engenharia, medicina ou direito  eu lhe dava um trocado. Mas Desenho Industrial, sinto muito! Abriu o semáforo, ela partiu e eu fiquei ali parado por um instante pensando no que aquela senhora totalmente desinformada tinha dito. Comecei bem!

Desenho Industrial é um curso para quem tem nervos de aço, não é para qualquer um. Noites sem dormir à base de café e guaraná, uso do horário de almoço do trabalho, finais de semana… tudo para finalizar aqueles trabalhos diários monstruosos. Materiais caríssimos: milhares de tipos de papéis, canetas nanquim, goivas, régua-T… Vida social? Apenas a turma da faculdade que se reunia para aquela pizza quando um professor faltava. Na realidade, isso tudo é apenas o começo. Depois que você “põe a mão na massa”, tudo dobra de tamanho!

Por isso, meu amigo, se você que quer cursar Desenho Industrial por que é “legal” ou porque a sala de aula só tem mulher (o que é uma mentira, pois na minha turma a maioria era homem), pense duas vezes.

Pedágio
Pedágio

Difaculdade – parte 1

Hoje olho para trás, e me pergunto: o que é que eu fiz?

Como recordar é viver, vou escrever um pouco sobre o que me trouxe até aqui. As batalhas, o drama, os danos…

Primeiro, como é que eu fui parar em um curso de desenho industrial?

Comecei a cursar desenho industrial na sombra da minha irmã que também o cursou 5 anos antes de mim. Eu a via sempre no meio de tintas, material de desenho, computador (o nosso primeiro PC, um 386), prancheta… e achava aquilo uma maravilha. Na época eu fazia colégio técnico com especialização em eletrônica ali no centro (quase 2 horas de ônibus).  E um dia, minha irmã me deu a idéia de fazer um curso de caricatura e cartoon no Senac, que ficava no meio do trajeto para minha casa. Foi um curso rápido mas tinha como professor um carinha chamado Fernando Carvall, grande cartunista que até então eu desconhecia. Ali eu tomei realmente gosto pelo desenho. Era como uma droga, o papel e lápis sempre estavam grudados em minhas mãos, e eu não conseguia largar. Todas as pessoas ao meu redor se transformavam em caricaturas. Mas segurei essa paixão e me mantive na eletrônica até o fim do curso.

No último ano de eletrônica, acordava (mal humorado) às 5h15 para garantir minha carona para o estágio que ficava do outro lado da cidade e que me garantia 1/2 salário mínimo. E todos os dias na hora de usar o vale-coxinha sempre pensava: Poxa, ao invés de ficar o dia todo levando choque, por que não me lambuzar de tinta e ficar no meio de material de desenho o dia todo? … bem, não pensava isso. Eu iria continuar a carreira e prestar vestibular para engenharia elétrica. Era o que os meus pais queriam que eu fizesse. Mais um engenheiro na família.

Como todo bom engenheiro sai da Poli ou da Unicamp, eu teria de ralar em um cursinho pré-vestibular durante mais um ano. Mas antes, vamos ver como é esse tal de vestibular: Você entra às 7 da manhã, senta em uma cadeira entre outras 40 pessoas, todas querendo pegar a sua vaga. E fica ali o dia todo queimando neurônios enfrentando um papel com letras em corpo -1, passando fome e se quiser ir ao banheiro tem que pedir permissão. É, não vou passar de primeira. Mas não custa tentar… custa sim, uns 50 dinheiros.

Aí ela, sim minha irmã novamente, me perguntou por que eu não experimentava fazer o vestibular de desenho industrial. Hum… OK, era só um teste mesmo. Eu não iria entrar logo de cara mesmo! … Entrei! Adeus engenharia!

Ah sim, fiz o vestibular para a Poli. Foi ali que ganhei meu primeiro barbeador junto com uma régua e um DanUp! E só.

Doce Vingança
Doce Vingança