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Pretinha e Nós

Em um belo dia em minha infância, muito antes da Pretinha, meu pai chegou com uma caixa de papelão no banco de trás do carro, e dentro dela estava Pici. Meio boxer e meio pastor alemão (ou canguru), Pici era um cachorro que não tinha nascido para ser domesticado. Talvez por ter sido nosso primeiro cachorro, tínhamos muito medo que ele pudesse nos fazer algum mal. Um dia ele pulou um muro de 2 metros de altura e fugiu de casa.

Depois dele veio Duke, o meio pastor belga. Mesmo sendo um cão bem atrapalhado, foi fiel até o último dia de sua vida defendendo a paz em nosso lar. Sua morte cruel e repentina foi um choque para todos. Chegar em casa e não ter aquele amigão para recepcioná-lo era de uma tristeza muito grande.

Não aguentamos a falta de Duke e algumas semanas após esse incidente, eu e minha esposa fomos para uma feira de cães (feira ao pé da letra, com barraquinhas e hora da Xepa) que fica no parque Villa Lobos, encontrar não um substituto mas um novo companheiro para a família. E como o Natal já estava próximo, decidimos que seria um ótimo presente para meu pai.

Caso não encontrasse o “presente” ideal, ver filhotes de cachorro sempre é um passeio de final de semana agradável. Tinha de tudo, beagles (muito inquietos), pastores, yorkshires (uma praga, todo lugar tem um), poodles (não, obrigado), boxers (não outro Pici), rotveilers (doberman 2 – ele está de volta), pitbulls (doberman 3 – armado e perigoso), labradores… Opa! Labradores são companheiros, bonitos, inteligentes, porte e tamanho bons. Poderia ser uma boa. O único problema é que aqueles que estavam na  feira eram muito magrinhos e desanimados, pobres animais. Bem, hoje não era o dia, vamos embora – pensei.

A caminho para nosso veículo, vimos uma moça com um labrador e dois filhotões dentro do porta-malas do carro. Eram dois labradores negros, lindos. Os dois últimos de uma ninhada de oito. Mas um desses ao nos ver, logo se levantou, abanou o rabo e nos lançou aquele olhar de cachorro abandonado. Amor à primeira vista. Era uma fêmea! Fomos então apresentados ao pai, um enorme labrador chocolate, cabeça grande, porte de caçador, pêlo brilhante e o mais importante: quieto e educado! Era o cachorro dos nossos sonhos. Da mãe, de quem os filhotes herdaram a cor, só vimos a foto (alguma semelhança com o livro Marley e Eu?). OK, vou dar mais uma pesquisada sobre a raça na internet e volto depois! Fui caminhando, minha esposa com uma enorme dor no coração deu um último carinho na cachorrinha e me acompanhou. Nisso, aquela bolinha preta e peluda salta do porta-malas, se espatifa no chão e a segue.  A dona desesperada, logo a agarrou e a colocou novamente junto ao pai.

Entramos no carro, minha esposa me olha e diz: Ela quer vir conosco! Vamos levá-la! E quem sou eu para enfrentar dois olhares de cão abandonado em um só dia? A bolinha pretinha foi para casa quietinha no colo de minha esposa. É como se finalmente tivesse encontrado a paz que a tanto tempo procurava. Quem disse que almas gêmeas não existem? Assim começou uma longa história de amor!

 

Pretinha e Nós